O restauro de São Cristóvão - um trabalho e muitos resultados
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É fato notável e reconhecido o crescimento, nos últimos dez ou quinze anos, das iniciativas da sociedade com vistas ao salvamento e restauro de monumentos, evidenciando a sua progressiva conscientização quanto ao patrimônio cultural. Neste quadro, a restauração da Igreja de São Cristóvão tornou-se exemplo de sucesso numa luta obstinada e espontânea, empreendida por cidadãos e empresas, agindo desinteressadamente contra o descaso e destruição de um monumento que parecia perdido. Talvez aqueles cidadãos e empresas não imaginassem que, muito além de salvar, resgatar e valorizar um monumento, construíam um referencial para outros, multiplicando os seus efeitos sociais. Mais que isto, mostravam a nova atitude assumida por uma vanguarda da sociedade brasileira, algo que hoje se chama responsabilidade social.
Feito o trabalho, decerto é prazeroso para qualquer cidadão desfrutar do resultado de tanto esforço: entrar na igreja e apreciar a sua arquitetura e a sua ornamentação, ou recordar as histórias que ela testemunha: do primeiro Seminário Episcopal, marco do crescimento da cidade após séculos como vila pequena, isolada e estagnada; do primeiro altar néo-gótico do país, anunciando novos gostos; do primeiro observatório astronômico de São Paulo; dos campos do Guaré que ela viu se transformarem na avenida Tiradentes; das gerações de alunos do Seminário e do Colégio Diocesano que a freqüentaram enquanto sua capela; dos imigrantes armênios que abrigou até reconstruirem a sua igreja; do bairro a que serviu como paróquia, vendo crescer e decair ao seu redor, e que agora ajuda a recuperar, na sua condição de monumento classificado como “de especial interesse” pelo Programa Monumenta e pelos planos de revitalização do centro histórico de São Paulo.
Para os que atuaram diretamente, o prazer maior é saber que a restauração lhes deu um aprendizado valioso, por meio de um verdadeiro trabalho de equipe, em que cada interveniente trabalhava sempre em conjunto com os demais. A otimização da metodologia de restauro e os excelentes resultados finais foram apenas algumas das conseqüências naturais disto.
Porém, o mais gratificante talvez seja a constatação de que, tal como todas as iniciativas competentes e honestas de responsabilidade social, também esta restauração continua a surtir efeitos imprevistos, além das expectativas. Após transformar-se em exemplo e objeto de estudos para cidadãos empreendedores e profissionais do restauro, está em andamento o projeto de criação do primeiro curso universitário de restauro do país, sob responsabilidade da PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a ser instalado em salas do edifício restaurado, excedentes ao uso da Paróquia. Como mais uma conseqüência direta da restauração da Igreja de São Cristóvão, à medida em que este curso evolua, o próprio edifício do Seminário Episcopal será todo restaurado. Mas os resultados indiretos de tanto aprendizado e inovação com certeza prosseguirão beneficiando a sociedade por muitos anos.
Julio Moraes – Coordenador geral.