O Resgate e Restauro das Imagens de São Sebastião
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Em 2001, durante a restauração da Igreja Matriz de São Sebastião, SP, operários encontraram centenas de fragmentos de imagens sacras de cerâmica no interior de uma parede. Montou-se então, rapidamente, uma operação emergencial de resgate e os fragmentos foram cuidadosamente transportados para o Arquivo Municipal, documentados e embalados, com a participação de funcionários municipais e apoio de um restaurador. Desde logo ficou claro que a musealização das peças seria o caminho natural e mais útil para aquele extraordinário achado. Considerou-se a possibilidade de remontar uma ou mais imagens, mas evitou-se tomar decisões precipitadas que poderiam comprometer a sua preservação e usufruto pela sociedade. Somente uma das peças, em melhores condições embora incompleta, foi logo exposta no Museu de Arte Sacra de São Sebastião; as demais permaneceram em depósito.
O exame preliminar dos fragmentos revelou sua alta qualidade artística e grande antiguidade, e num deles uma data chamava a atenção: “1652”.
Em 2005, conclui-se pela viabilidade técnica e ética de se remontar as imagens sacras, escolhendo-se a “Santa Luzia”, peça bem identificada, datada e com fragmentos relativamente grandes o bastante para iniciar o processo de restauro.








Em 2006, começa a intervenção de restauro: todos os fragmentos foram embalados individualmente e transportados para o nosso ateliê onde iniciamos a conferência completa e seleção de todos os fragmentos, qualquer erro na atribuição da origem de um só deles poderia originar a restauração incompleta ou equivocada de uma ou mais imagens. A escolha dos processos técnicos e de um partido ético de restauro requereu a avaliação das condições físico-químicas dos fragmentos, e da qualidade dos restos de policromia (pintura), que variam entre cada parte da imagem. Foram colhidas micro-amostras para análises laboratoriais que ajudaram a identificar os materiais usados pelos artistas coloniais, ainda pouco conhecidos.
A minúcia durante a identificação dos fragmentos fora fundamental para o perfeito posicionamento desses que posteriormente foram colados segundo essa ordem pré-estabelecida, reconstruindo pouco a pouco os volumes da imagem e as áreas correspondentes aos fragmentos perdidos, mas somente nos pontos onde se tinha certeza da volumetria e formas perdidas. A reintegração cromática (retoque ou reconstrução de cores) foi feita exclusivamente nas áreas refeitas, usando-se técnicas de pintura especiais, conhecidas como “abstração cromática”, para evidenciar as reconstruções.
Em 10 maio de 2010, trezentos e cinqüenta e cinco anos após ter sido esculpida por um artista ainda desconhecido e mais de cem anos após ter sido quebrada e encerrada, a imagem de Santa Luzia voltou a ser exposta no Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo do Estado de São Paulo, em pré-exibição da exposição “Arte Sacra – Gênese da Fé no Novo Mundo”, em homenagem à visita do Papa Bento XVI.
O restauro das outras cinco imagens encontradas com ela foram viabilizados e efetuados meses depois.
Julio Moraes – Coordenador geral.